quarta-feira, 10 de setembro de 2014

LÍNGUA PORTUGUESA...

A língua portuguesa é uma das mais difíceis do mundo, até para nós.
O português praticado no Brasil, então ...

Meia, Meia, Meia, Meia ou Meia?
 
(de um e-mail do meu amigo Afonso Mota)
 
[... na recepção dum salão de convenções, em Fortaleza.]

"- Por favor, gostaria de fazer minha inscrição para o Congresso.
- Pelo seu sotaque vejo que o senhor não é brasileiro. O senhor é de
onde?
- Sou de Maputo, Moçambique.
- Da África, né?
- Sim, sim, da África.
- Aqui está cheio de africanos, vindos de toda parte do mundo. O mundo está cheio de africanos.
- É verdade. Mas se pensar bem, veremos que todos somos africanos, pois a África é o berço antropológico da humanidade...
- Pronto, tem uma palestra agora na sala MEIA oito.
- Desculpe, qual sala?
- MEIA oito.
- Podes escrever?
- Não sabe o que é MEIA oito? Sessenta e oito, assim, veja: 68.
- Ah, entendi, *MEIA* É *SEIS*.
- Isso mesmo, MEIA É SEIS. Mas não vá embora, só mais uma informação: A organização do Congresso está cobrando uma pequena taxa para quem quiser ficar com o material: DVD, apostilas, etc., gostaria de encomendar?
- Quanto tenho que pagar?
- Dez reais. Mas estrangeiros e estudantes pagam *MEIA*.
- Hmmm! que bom. Ai está: *SEIS* reais.
- Não, o senhor paga MEIA. Só CINCO, entende?
- Pago meia? Só cinco? *MEIA* É *CINCO*?
- Isso, MEIA É CINCO.
- Tá bom, *MEIA* É *CINCO*.
- Cuidado para não se atrasar, a palestra começa às nove e MEIA.
- Então já começou há quinze minutos, são nove e vinte.
- Não, ainda faltam dez minutos. Como falei, só começa às nove e MEIA.
- Pensei que fosse as 9:05, pois *MEIA* NÃO É *CINCO*? Você pode
escrever aqui a hora que começa?
- Nove e meia, assim, veja: 9:30
- Ah, entendi, *MEIA* É *TRINTA*.
- Isso, mesmo, nove e trinta. Mais uma coisa senhor, tenho aqui um
folder de um hotel que está fazendo um preço especial para os
congressistas, o senhor já está hospedado?
- Sim, já estou na casa de um amigo.
- Em que bairro?
- No TRINTA Bocas.
- TRINTA bocas? Não existe esse bairro em Fortaleza, não seria no SEIS Bocas?
- Isso mesmo, no bairro *MEIA* Boca.
- NÃO É MEIA BOCA, é um bairro nobre.
- Então deve ser *CINCO* bocas.
- Não, SEIS Bocas, entende, Seis Bocas. Chamam assim porque há um
encontro de SEIS RUAS, por isso seis bocas. Entendeu?
- Acabou?
- Não. Senhor é proibido entrar no evento de sandálias. Coloque uma MEIA e um sapato...
... o africano enfartou!..."

... E isso porque nem se falou em "meia-calça", aquela peça de roupa feminina...

sexta-feira, 25 de julho de 2014

LÚCIDA ANÁLISE SOBRE O #TRABALHO, POR EDUARDO GIANNETTI (COLUNISTA DO JORNAL "FOLHA DE SP")

(matéria jornalística enviada por e-mail pelo meu colega Dr. Zander Navarro)

Prezado Dr. Zander
De tão contundente este texto diante de nossa condição atual, não sei nem o que comentar...
Creio que o ponto nodal é a clássica questão entre o "ter" e o "ser", que o autor inteligentemente transpõe para o "fazer", categoria mais afim às dimensões laborais.
Se avançarmos na articulação, e adicionarmos a isso, por um lado, a vertiginosa desmaterialização do trabalho na sociedade da informação, onde o "fazer" se traduz em conhecer, analisar, pensar, articular, co criar, inovar, etc..., todas elas ações essencialmente de bases imateriais; por outro lado, se pensarmos que é cada vez mais difícil o exercício do livre debate e o pensar, a desconstrução, a análise, a síntese, a "leitura" e o "olhar" nos ambientes destinados a isto, concluo que, seguindo esse autor, estaríamos caminhando a passos largos para uma verdadeira inversão/subversão completa do cogito cartesiano quando, paradoxalmente, somos pagos [ter] para não pensar [não fazer], logo, para não "ser"?!
Em outras palavras, algo do tipo: do "penso, logo sou/existo" [cogito, ergo sum] para "não penso, logo tenho" [non cogito, ergo habeo (?)]!...
Sempre fico pensando que grandes mistérios esconde a "natureza institucional" e sua dinâmica, tão avessos ao rigor ético e técnico, assim como ao mais legítimo e visceral  anseio de realização pessoal e profissional do ser humano através do trabalho enquanto "fazer", por excelência?...
Enfim... citando Descartes: "Daria tudo que sei pela metade do que ignoro."
Abs
Fernando Hello

quinta-feira, 3 de julho de 2014

DESAFIOS DA #PÓS-MODERNIDADE: NOVAS FORMAS DE LIDAR COM AS RELAÇÕES SOCIAIS E DE TRABALHO

Prezados
Vejam esta interessante entrevista com o psicanalista lacaniano Dr. Jorge Forbes, onde comenta os desafios enfrentados por algumas empresas diante das inusitadas demandas da pós-modernidade, e de suas novas e peculiares relações sociais e de trabalho.

Jorge Forbes: “As empresas precisam ir para o divã”


Para o psiquiatra e psicanalista, as empresas precisam fazer análise para entenderem as peculiaridades de uma época, na qual as hierarquias rígidas e verticalizadas fazem pouco sentido.

Como gerir equipes, reter talentos ou se comunicar com os consumidores em um mundo sem bússolas, em constante mutação? Lidar com dilemas desse quilate, óbvio, não é uma tarefa simples. Mas algumas pistas para a solução de problemas desse tipo podem ser encontradas em um lugar insólito: em um divã, por exemplo. O psiquiatra e psicanalista Jorge Forbes, um dos introdutores das teorias de Jacques Lacan no Brasil, está convicto de que as empresas precisam fazer análise. Isso para que entendam as peculiaridades de uma época, na qual as hierarquias rígidas e verticalizadas fazem pouco — ou nenhum — sentido. “As relações humanas, sob o ponto de vista psicanalítico, não são mais intermediadas por um padrão estável”, diz Forbes. “E isso torna todos mais frágeis. Por isso, as pessoas estão cada vez mais sujeitas a passar por verdadeiros curtos-circuitos”. Daí, observa o médico, a explicação para a ocorrência de tumultos variados, o que inclui desde manifestações populares ao aumento de crimes provocados por reações intempestivas.
O senhor tem observado a ocorrência frequente de crimes hediondos, envolvendo pessoas comuns. O que está acontecendo em nossa sociedade?
Temos de constatar algo óbvio. Um tipo específico de crime, até recentemente raro, está se tornando cada vez mais comum, quase habitual. Presenciamos uma verdadeira epidemia desse gênero de crimes, marcado por linchamentos, pessoas picadas (zeladores e maridos), além de pais, mães e filhos assassinados uns pelos outros. Não estou dizendo que vivemos em uma época em que acontecem mais crimes. Não é isso. Mas é inegável que há um aumento de um problema específico. Casos que antes eram raros, hoje se tornaram mais comuns.

O que distingue esses crimes?
Todos são hediondos e foram praticados por pessoas comuns, sem antecedentes criminais, sem ficha corrida.

Por isso, surpreendem?
Exato. São inusitados, no sentido específico da palavra — ou seja, parecem fora de lugar. As pessoas que os cometeram são muito semelhantes àquelas que nunca fizeram nada parecido. Esse tipo de situação coloca todos em alerta. Deixa as pessoas angustiadas. Elas dizem: “Me explique qual a diferença entre mim e esses criminosos, porque eu quero ter certeza de que nunca faria algo parecido”. O ser humano está se defrontando com um aspecto assustador da sua condição: somos bichos perigosos. E a nossa época favorece essa percepção.

Por quê? Qual a influência desta época?
O homem reage de forma diferente conforme a época em que vive. Aliás, nós chamamos de época a forma como o homem fixa a interação com os outros homens e com o ambiente em determinado espaço de tempo. Nós passamos do período moderno para o pós-moderno. As mudanças foram expressivas.

Qual a diferença entre esses dois períodos?
No moderno, sob o ponto de vista psicanalítico, as relação humanas eram intermediadas por um padrão estável. Na família, havia a lei do pai. Nas empresas, os funcionários seguiam a lei do chefe. Na sociedade civil, vigoravam as leias da pátria. A relação era piramidal. Ela estabelecia o certo e o errado e as pessoas criavam uma identidade a partir desse padrão.

O que ocorre na sociedade pós-modernidade?
O laço social muda. Ele deixa de ser único, hierarquizado. O padrão até existe, mas se torna multifacetado. Há uma multiplicidade de padrões. Na sociedade pós-moderna, que também é chamada de “rede”, as relações humanas também são mais diretas. Elas são menos intermediadas. Não passam por um elemento comum de reconhecimento, como o pai, o chefe e a pátria. Essas novas relações tendem a ter uma intensidade maior, mas sofrem rupturas de maneira muito mais rápida. O chamado “deletar”, utilizado no computador, passa a ser aplicado nas relações pessoais. As pessoas se “deletam” o tempo todo. Hoje, são próximas. Amanhã, acabou. Não estou dizendo que isso vai ficar assim. Eu defendo a ideia de que estamos vivendo um momento de passagem.

E o que a época tem a ver com os crimes inesperados?
Esse novo mundo tem uma característica importante. Ele cria uma relação afetiva sujeita a curtos-circuitos.

Como assim?
Antes, havia um circuito pactuado, com o pai, o chefe e a pátria, em que você tinha maneiras de se relacionar e até de brigar. Agora, não. Os padrões são menos evidentes. E, de repente, uma pessoa entra em curto-circuito e pode cometer uma atrocidade. O que é uma surpresa até mesmo para ela. Repito: com isso, não quero justificar e nem diminuir responsabilidade dos criminosos por seus atos. É justamente o contrário. Como vivemos em uma sociedade que passou por uma desregulamentação, que não tem mais uma norma clara, temos de aumentar o botão da responsabilidade subjetiva. É bom que nos assustemos com esses crimes, porque, sim, nós somos parecidos com os criminosos. Qualquer pessoa está fragilizada e pode ter reações intempestivas.

O senhor fala que vivemos em um mundo sem bússolas. Faltam valores?
Sim, os valores têm tudo a ver com isso. Na verdade, estamos em um período de mudança de valores. Fomos criados com base em valores externos. Nesse ponto, concordo com Luc Ferry [filósofo francês]. Ele diz que o homem ocidental não morre mais por grandes ideais, mas morre pelas pessoas que lhe são próximas. É mais sensível à família, ao amigo, à namorada. O que existe é uma responsabilidade menos heroica. A amizade toma o lugar da admiração.

Por que as pessoas estariam dispostas a morrer?
A pergunta é por que, ou por quem, eu me sacrifico. A palavra sacrifício tem a mesma base etimológica do termo sagrado. Aquilo que é sagrado para mim são as pessoas mais próximas. Aquelas que dividem um espaço tangível na minha experiência vital: meu irmão, meu filho, minha mãe, meu professor. Na época moderna, por ser vertical, nós admirávamos pessoas como Winston Churchill, John Kennedy, Juscelino Kubitschek. Admirávamos os grandes homens. Se bem que é verdade que o Brasil nunca admirou muito ninguém. O brasileiro nunca se tomou muito a sério, o que faz com que este seja um a país pós-moderno por excelência.

Essa mudança na forma de admirar também altera a atitude das pessoas?
Sim. As pessoas, principalmente com mais de 40 anos, mediam as suas atitudes para saber se elas estavam mais próximas ou distantes da pessoa admirada. Se você educar um menino do século 21 a partir desses moldes, ele vai achar graça. O mundo de hoje não tem lugar para esse tipo de admiração vertical e distante.

Como as empresas entram nesse cenário?
Mal, mal, muito mal. Elas cometem erros básicos. Ainda acham, por exemplo, que a amizade pode ser uma coisa perigosa. Na verdade, é o contrário. Como vimos, ela é um valor fundamental nesta época. Antes, quando você indicava uma pessoa para um posto no trabalho, dizia: “Ele é um cara bom e não porque é meu amigo”. Hoje, as pessoas dizem: “Ele é bom e, além do mais, é meu amigo”. Não há problema nessa relação de amizade e nem todas as empresas perceberam essa mudança como parte de uma alteração maior. Hoje, como eu disse, vivemos em período mais flexível, com menor padronização. Por isso, ele se torna incompleto. A subjetividade surge como um recurso importante para completar este mundo. Daí, a importância dada à amizade. Este momento que vivemos é muito mais da razão sensível do que da razão asséptica.

Quais os outros problemas das empresas?
Elas tentam criar uma imagem de meninas bem comportadas de uma forma equivocada. É por isso que os seus princípios — missões, valores e códigos de ética — são genéricos. Todos dizem que se trata de uma companhia sustentável, que respeita a competição ética, além dos funcionários e do meio ambiente... Esses documentos corporativos usam termos padronizados. Assim, todos parecem iguais. Mas isso dá uma impressão de falsidade. Depois, os executivos perguntam: “Por que não temos aderência? Por que perdemos tantos funcionários?”. Ora, quem acredita nesse tipo de coisa? Ninguém. Nem eles mesmos.

O que fazer? Como melhorar esses códigos de ética?
Estamos em um mundo novo, com novos sintomas, mas utilizando velhos remédios. Essa é a pior coisa a ser feita. Você vai dormir tranquilo, achando que está medicado, mas é o contrário. O problema continua lá e só está aumentando. As empresas devem falar mais ao desejo e menos à necessidade das pessoas. Elas têm de dar menos valor às histórias gloriosas e acentuar as histórias singulares. Os códigos de ética têm de ser mais parecidos com pactos, nos quais os funcionários vejam representado o mundo atual e não o mundo anterior, que era de caráter disciplinador.

As empresas precisam ir para o divã?
Sim. Eu concordo com o jornalista Zuenir Ventura. Ele disse recentemente que a sociologia não dará mais conta da nossa sociedade. A psicanálise, por sua vez, é uma teoria mais forte para entender a época atual. Nós temos uma prática bastante consistente e estabelecida conceitualmente para não nos apavorarmos diante do mundo incompleto. Inconsciente, aliás, quer dizer aquilo que eu não sei. O mundo de hoje funciona através de mecanismos incompletos.

Quais os outros erros das empresas?
Vejo que, às vezes, as empresas não entendem qual é o produto que realmente têm. O iPhone, por exemplo, não foi exposto por Steve Jobs como uma máquina. Ele foi apresentado ao mundo como uma interface. Com isso, deixou de ser um objeto de consumo. Ele se tornou uma referência cultural. Uma empresa não sobreviverá por muito tempo se não for uma editora de cultura. E não estou falando de patrocínio de cultura. Isso é outra coisa. As empresas têm de descobrir qual é a maneira que os seus produtos alteram o contexto de nossas vidas. É isso o que devem enfatizar.

O senhor disse que o software criado por Freud não dá mais conta da sociedade. Isso também tem a ver com a pós-modernidade?
Sim. Freud criou um software maravilhoso. Muito melhor do que o do Bill Gates. Pelo menos, durou cem anos. Ele precisava entender de que maneira o homem estava articulado com o mundo. Captou a estrutura da organização humana da sua época. Percebeu que ela era piramidal. Colocou a mãe, do ponto de vista metafórico, como aquilo que quero alcançar. E colocou o pai como o percurso. Tudo isso com uma simplicidade inacreditável. Ele nos convenceu de que éramos edípicos, que a verdade humana era edípica. Agora, isso mudou.

Como?
Antes, eu buscava, na minha condução analítica, interpretar a posição edípica das pessoas. Com isso, elas ficavam sabendo mais de si mesmas. Hoje, essa passagem também existe na análise, mas há algo mais importante: tentar saber agir frente aquilo que não se compreende. Não vivemos mais em uma sociedade iluminista. Está é uma sociedade que funciona por meio de monólogos articulados e não de diálogos.

O senhor pode citar um exemplo?
Nas manifestações de rua do ano passado, todos ficaram loucos para entender que diabo era aquilo. E não tem nada para entender. Aquilo era um diabo mesmo. Era tudo multifacetado. Não havia uma bandeira de luta. Não adianta tentar entender aquelas manifestações como os protestos de 1968. Aliás, hoje, as pessoas não perguntam mais se os outros estão compreendendo os seus pontos de vista. Elas perguntam se aquilo que faz sentido para mim, também faz para você. E não se trata do mesmo sentido para ambos. Daí o surgimento de termos como “tá ligado?”. Ele questiona se houve um sentido compartido. Não se existiu uma significação comum. É isso o que está na essência da chamada sociedade viral. As empresas também não sabem trabalhar nesse ambiente. Estão reagindo e insistindo com modelos do mundo anterior porque se sentem mais seguras. Ficam inseguras quando se tira o padrão. Elas adotam palavras do mundo pós-moderno e agem como antes. Precisam fazer essa passagem paradigmática.

Mas as manifestações de 2013 não mostram que as pessoas buscavam uma liderança? Não havia um anseio pela velha verticalização?
Só conseguimos entender a organização por meio da figura do líder, aquele que conduz uma série de pessoas que dão a ele esse papel. Esse é o modelo anterior. O novo modelo de líder não é esse. É de uma pessoa que cause em você mais um desejo e menos que explique para você como lidar com uma necessidade. Observe, durante os protestos, o governo tentou responder àquelas pessoas por meio do discurso da necessidade. Ele dizia: “Ah, vocês querem que o preço das passagens de ônibus diminua? Está bem”. Mas não era isso que estava em jogo.

E como o governo deveria responder?
Mas a questão é justamente essa. Não se trata de responder. É preciso interagir. Nós ainda estamos presos a modelos antigos. Observamos um problema e tentamos encontrar uma solução. Não é isso. Neste caso, é interessante observar como as mulheres agem. Elas são muito mais pós-modernas do que os homens. Quando uma mulher traz um problema, o homem já pensa em sugerir uma solução. Diz: “Ligue para o marceneiro, para o encanador, faça isso, faça aquilo”. Mas ela não quer uma solução. Ela quer expor o problema. Estamos agindo como homens que não conseguem lidar com a queixa feminina. A pós-modernidade tem um quê de queixa feminina. Ela não tem, necessariamente, um objeto definido. Com ela, muitas vezes, o mais importante é interagir. Não solucionar.


[http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Empresa/noticia/2014/06/jorge-forbes-empresas-precisam-ir-para-o-diva.html]

quarta-feira, 2 de julho de 2014

#CO-CRIAÇÃO DO CONHECIMENTO E #INOVAÇÃO


Prezados


Tenho pensado bastante nestas questões sobre o que nos leva a compartilhar ou não conhecimentos e a cria-los de forma coletiva, eventualmente chegando à inovação.
Participo de vários grupos em diferentes campos do conhecimento e, analisando suas dinâmicas, percebo que o que dá liga a esses processos grupais é quase sempre a dinâmica gerada por uma “questão comum” a todos, o desafio e o prazer da descoberta como vetor resultante do “esforço coletivo”.

Em outros termos, a sinergia que “une os esforços” é uma problemática ou questão comum aos envolvidos, cujo equacionamento, encaminhamento ou mesmo a solução traz benefícios a todos, mas mais especialmente aos protagonistas.
Essa “problemática”, por sua vez, parece emergir como fruto de percepções semelhantes sobre um mesmo ponto já bastante explorado e esgotado individualmente. Assim, o que junta essas pessoas e as fazem co-participantes na construção de conhecimento é que todas estão engajadas num mesmo e único esforço de busca e descoberta, fio condutor do processo, capaz de unir gregos e troianos.

É o campo de atração da questão em si que parece propiciar a união e o reconhecimento do semelhante enquanto mais um buscador e co-participante na construção desse conhecimento, ressignificando seu status no processo de concorrente a colaborador, de ameaça a oportunidade de crescimento.

Pierre Lévy (*) nos apresenta um aspecto instrumental/ferramental desse processo quando contrapõe o “virtual”, aquele constantemente problematizado e relançado, atemporal e “a-espacial”, ao “atual”, aquele solucionado, pressuposto e já dado no aqui e agora, essa contraposição dialética geraria uma tensão operativa onde o virtual tende ao atual (à “atualização”, ao “solucionado”, ao “possível”, dadas as condições atuais); e, vice-versa, [re]problematiza constantemente o atual.

Mas em relação a aspectos dinâmicos mais subjetivos, como não extrapolar esse dinamismo informacional para as questões psico-sociais envolvidos na atuação de grupos de pesquisa em suas reais expectativas e esforços de co-criação de conhecimentos e inovação em seus diferentes arranjos e organizações?

Mais do que mecanismos de gestão, facilitação ou esforço, atuais ou virtuais, de articulação ou mesmo desarticulação, de intenções tácitas ou explícitas, o que nos move como pesquisadores e nos faz ir ao encontro do semelhante não seriam nossas mais radicais [de raiz] e profundas questões “co-incidentes”?!...

Donde concluímos que o que mais essencialmente nos une e nos move é a dúvida, na medida em que caminhamos todos, por definição, pelo “não-saber”.


(*) LÉVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Loyola, 2000. 3ª ed. 212 p.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

PREVISÍVEL E DURO GOLPE NO MODELO DEMOCRÁTICO DE #ESCOLA

Previsível e duro golpe no modelo democrático de escola! É quando prevalecem os critérios convenientes de Avaliações sob encomenda, "reprodutoras-conservadoras", matando qualquer tipo de inovação, perspectivas de emancipação e real cidadania, num sistema educativo essencialmente retrógrado e a serviço dos interesses do capital, na formação de mão de obra barata.

  • Gilberto Allesina: A lógica pedagógica superada pela prática demagógica? Ou será falta de qualificação mesmo?

  • Fernando Antonio Hello ... vc não pode medir uma escola democrática e "alternativa" com os mesmos indicadores usados para uma escola "tradicional"...!!! É óbvio que ela não vai se sair bem nesses quesitos!... Mas é porque o foco é absolutamente outro! Então, o que está errado é o sistema avaliativo!!! É ele que tem que ser colocado em cheque, se tem legitimidade, isenção, equanimidade, etc... e problematizado quanto à sua intencionalidade, objetividade e operacionalidade!... Sem esquecer ainda a quem ele está servindo e qual o uso político-administrativo que será feito dos seus resultados!... Enfim... sem dúvida, é um sistema altamente frágil, vulnerável e manipulável em toda sua extensão, direcionando e fabricando, já em sua construção, os resultados que visa obter!... Será que ninguém neste mundo vê isso?!... [... ou não quer ver...?!... ] C.Q.D.

  • Gilberto Allesina: Tai um assunto que seria legal discutir com umas cervas...

  • Gilberto Allesina: Acho que uma das coisas graves da escola pública é que ela raramente se permite ver ao espelho, refletir, pensar, autocriticar-se... e isso acontece em vários quadrantes! Tive algumas oportunidades de sentir como o corpo docente é refratário a qualquer crítica ao sistema e a qualquer oferta de ajuda externa para introdução de música no conteúdo curricular de uma forma mais séria... Falo da Itália, mas acho que a mentalidade do professor público daqui é muito parecida com os professores dai...

  • Fernando Antonio Hello ... a escola já é, por definição, um aparelho ideológico do estado (Marx) e, portanto, conservadora e reprodutora. Essa já é a realidade, o dia-a-dia! E quando se tenta romper com esse status quo, as resistências são enormes, como comprova a matéria acima! Voltamos, portanto, à estaca zero, à realidade da conservação e da reprodução. O sistema educativo se retroalimenta do mesmo, desestimulando e inviabilizando a transformação e a emancipação na formação do futuro cidadão! É desalentador,... ou seria esse o próprio "projeto"!?...

  • Gilberto Allesina: Acho que o projeto é esse, e o que é pior, é que não vejo no horizonte o corpo docente se bater pela qualidade do ensino, com raríssimas exceções. A mobilização só ocorre pra reivindicar salário...

  • Fernando Antonio Hello Pois é... é todo um sistema de precarização do trabalho docente, de luta pela sobrevivência, de desvalorização do trabalhador,... enfim... é todo um sistema complexo se deteriorando! Para melhorar, é preciso medir; para medir, é preciso saber o que, como, onde, quando, por que medir e estabelecer indicadores; para estabelecer os indicadores, é preciso ter visão de todo dessa realidade, dos processos, e dos efeitos colaterais dos sistemas avaliativos... e assim vai!... Enfim... Só não pode começar do fim para o começo, ou seja, os indicadores, uma vez estabelecidos, passam a ser as metas e os objetivos a serem atingidos pela educação!... Falo desse mecanismo de "reversão" e "perversão" de discursos na minha Tese... [disponível na Biblioteca Digital da UNICAMP, se lhe interessar...]...

  • Giba Canto: Estou lendo um livro de base neurolinguística (Luria e outros) que diz que para que tenhamos (alunos e todos nós) uma motivação interna é necessário que haja: deadline, pressão de tempo e condições de contorno estritas. Isso faz que que busquemos "ferramentas" internas para resolver a situação, coisas que muitas vezes nem imaginamos que já temos... Acho que muita "moleza" (liberdade) não leva a muito bons resultados !!!???

  • Fernando Antonio Hello Prezado, não sou contra responsabilidade, bons resultados e aprendizagem efetiva; sou contra sistemas de avaliação mal calibrados e distorcidos, utilizados para fins tendenciosos e maliciosamente preditivos!...

  • Lenira Politano da Silveira: A análise dos fracassos na educação baseada apenas na forma de avaliação é absurdamente rasa! Além do mais a matéria é perigosa ao associar tudo isto a práticas democráticas!

  • Gilberto Allesina: Uma forma de avaliação seria, depois de 10 anos, ver como esses alunos estão na vida... Porque os pais, assim como a escola, são caminhos para nos colocar diante da vida de maneira saudável e autônoma.

  • Giba Canto: Como diz o Prof. José Pacheco, para se fazer avaliação do ensino é preciso muito cuidado, pois os interesses e valores envolvidos permeiam todo esse processo. Alguns avaliam o ensino "escolar", como entendimento do que foi ensinado, raciocínio lógico,memorização, etc... Outros, como ele, procuram avaliar não o ensino, mas a educação como formação de um ser humano na sua integridade, auto-percepção, socialização, cidadania, consciência da nossa humanidade, amorosidade, etc... Isso dá muito pano prá manga !!! ...

  • Fernando Antonio Hello Exatamente, esta é a questão, meus caros!... Ou seja, estamos avaliando equivocadamente propostas inovadoras de formação que vão muito além dos conteúdos, e o que é pior, invalidando-as. Mas o erro está no calibre do crivo avaliativo, e não nos resultados efetivos em aprendizagem e formação dessas novas propostas de educação!...