quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

SOBRE O EPISTEMICÍDIO COMO REFLEXO DE POLÍTICAS DE PRODUTIVISMO INTELECTUAL, POR ALEX MARTINS MORAES - CARTA CAPITAL

Prezados
Por indicação de Antonio Ozaí, da Universidade Estadual de Maringá - UEM, um tema recorrente nas universidades, especialmente nas Faculdades de Educação, segue este texto sobre o epistemicídio como reflexo de políticas de produtivismo intelectual, por Alex Martins Moraes. Faz pensar...
 
Revistas científicas ou túmulos do saber? Por trás do suposto rigor das publicações “de excelência” pode estar o epistemicídio — a tendência da Academia a sepultar pensamentos dissidentes.
Abs

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

ARTIGO - "PENSANDO CIÊNCIA, REPENSANDO INOVAÇÃO", POR ESTER VILELA DE ANDRADE* E EVALDO FERREIRA VILELA**.

 
Na economia globalizada, a necessidade de conhecimento para melhorar a competitividade das empresas carrega consigo um foco em investimentos de pesquisa e desenvolvimento direcionados para a obtenção da inovação. Nessa tônica, torna-se cada vez mais difícil mobilizar recursos para investimento em pesquisa sem o retorno prático imediato. Essa questão traz à tona a discussão que teve origem em 1945, no modelo de Vannevar Bush, sobre a diferenciação entre pesquisas básica e aplicada como fases distintas do processo de produção de conhecimento científico e tecnológico. Esse modelo trata conhecimento e o uso deste como objetivos conflitantes, sem compreender as pesquisas duplamente orientadas.
Já o modelo de Donald Stokes, de 1997, apresenta o Quadrante de Pasteur, o qual combina a relevância da pesquisa para o conhecimento básico e para as aplicações econômicas ou sociais imediatas, mostrando o fluxo constante entre a teoria e a prática.
Por sua vez, Charles Mees, em 1920, tratou a diferença entre ciência pura e aplicada como meramente de intenção. A história corrobora o argumento com pesquisas desenvolvidas no interesse da ciência pura que provaram ser de grande valor para a indústria. Foi assim no caso de Ada Yonath, Prêmio Nobel de Química em 2009, que lutou contra a descrença da comunidade científica até conseguir desvendar a estrutura do ribossomo. Esse conhecimento contribui hoje para a elucidação da ação dos antibióticos, além de ter motivado outras pesquisas. Artur Ávila, ganhador da Medalha Fields de 2014, ilustra de forma bem-humorada a busca pela aplicabilidade da pesquisa. Ele pede que imaginemos um babilônio pleiteando verbas para pesquisar números primos, justificando que o propósito é a criptografia, a ser usada 5.000 anos depois para pagamento de contas com cartão de crédito!
Assim, no discurso que tem como foco a inovação, é necessária cautela para não transformar objetivos em jargões marqueteiros que dificilmente serão atingidos. Reconhecer que a importância da pesquisa científica continua sendo responder às questões que desafiam o conhecimento existente e que os progressos vivenciados pela humanidade não teriam ocorrido se fossem orientados apenas por demandas do setor produtivo é o primeiro passo para uma modificação da lógica de financiamento.
Obviamente, o aumento crescente dos pedidos de patente demonstra que a transformação de novos e relevantes conhecimentos em possibilidades de aplicações práticas é possível e desejável. Para o setor empresarial, esse avanço tecnológico se traduz em ganhos de produtividade e competitividade. Entretanto, é preciso aceitar que essa transformação advém de uma base sólida de conhecimentos acumulados. Essa lógica foi apresentada pelos economistas Wesley Cohen e Daniel Levinthal, em 1990, mostrando que a capacidade de desenvolver produtos e processos inovadores depende do conjunto de conhecimentos prévios.
As inovações estão associadas às incertezas e aos riscos do pioneirismo e nem sempre serão demandadas pelo mercado. Mais importante que determinar se a pesquisa será útil para o avanço científico e tecnológico, ou para a mitigação de problemas sociais e econômicos, é certificar-se de que ela será útil na sua essência, ou seja, que resultará na refutação ou aceitação de novos pressupostos que fundamentarão os avanços.
O caminho para a inovação passa necessariamente pela descoberta de novos fundamentos, portanto é irrevogável o apoio à pesquisa, mesmo sem o vislumbre de sua imediata aplicação prática.
[https://www.embrapa.br/en/xxi-ciencia-para-a-vida/busca-de-noticias/-/noticia/8504751/artigo---pensando-ciencia-repensando-inovacao. Acesso em 05 fevereiro 2016]
*Ester Gomide é analista da Embrapa Gado de Leite
**Evaldo Vilela é professor titular da Universidade Federal de Viçosa, presidente da Fapemig e membro da Academia Brasileira de Ciências.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

A VERDADEIRA TEOSOFIA - POR F. HARTMANN


[Texto enviado por R. Branco]

"Atualmente, parece haver uma grande confusão de ideias em relação ao verdadeiro significado dos termos: 'Místico, 'Misticismo' e 'Teosofia'. E este fato não deve nos surpreender, porque nenhum homem pode ser um verdadeiro Místico a menos que o espírito da verdade eterna se tenha convertido em um poder vivo dentro de sua própria consciência.

Nem nenhum homem em seu aspecto meramente intelectual, pode ser um verdadeiro Teósofo, porque a Sabedoria Divina está muito acima de toda compreensão terrestre, e pertence unicamente a parte divina no homem.

Nem o verdadeiro Misticismo, consiste numa especulação intelectual sobre certos segredos da natureza, o que somente seria útil a muitos, como uma mera gratificação de uma mórbida curiosidade.

A Sabedoria Divina não é um conjunto de novas doutrinas; as novas doutrinas no melhor dos casos, só serve para ajudar aos estudantes a sobrepujar os obstáculos que impedem a percepção da Verdade.

A verdadeira Teosofia significa o divino Autoconhecimento, o qual pode ser alcançado só ao encontrar-se a Verdade dentro de seu próprio ser.

A Teosofia não é uma teoria inventada com o propósito de 'converter' a um homem que tem a sua própria crença num conjunto de opiniões religiosas, a outro conjunto distinto; pelo contrário, é um poder, uma Luz desde o Plano Divino, a qual revela a cada buscador sincero, A VERDADE no seu próprio sistema científico ou religioso.

Esta luz não é alcançada por meio do esforço pessoal de ninguém; não pode ser construída, da mesma forma que não pode o homem criar a luz do Sol.

A sabedoria do homem baseada na ilusão do 'eu', não tem fundamento na verdade, senão que é uma pobre ilusão. Sua ciência trata somente das aparências e não daquilo que é eterno e real.

Entretanto a Sabedoria Divina, a luz da eterna verdade, por definição, está dentro de cada um de nós, e também fora de nós, e não há nada que a impeça de manifestar-se em nós mesmos, exceto nossos próprios preconceitos e erros, nossos amores e desejos por tudo aquilo que não é permanente, mas ilusório e evanescente.

Apegamo-nos às sombras e ilusões da vida, porque não compreendemos profundamente sua verdadeira natureza. Adoramos a forma e perdemos de vista o espírito.
Assim permanecemos ignorantes da nossa própria natureza verdadeira e não experimentamos a presença de um poder divino em nós porque estamos imersos numa crisálida de carne e osso, e só escutando as vozes da natureza material e os deleites imaginários que o mundo sensual produz no espelho da nossa mente.

O conhecimento espiritual não pertence ao homem material, e sim ao espírito que mora dentro da sua natureza material.

O Homem deve elevar-se acima da sua própria natureza inferior, e libertar-se a si mesmo da servidão imposta sobre ele pela sua encarnação na matéria, antes que possa realizar o estado divino ao qual a sua verdadeira natureza pertence.

Somente então alcançará um novo reino de consciência; novas percepções e memória aparecerão ante ele; se encontrará a si mesmo como sendo outro ser - não atado a terra - e aquilo que em outros tempos lhe pareceria oculto e misterioso, se tornará claro.

A partir desta perspectiva, os ensinamentos ocultos são necessariamente verdadeiros, porque se originam na auto percepção da verdade, e nunca de alguma especulação filosófica.

Mas sem nos importarmos quanto real possa ser para aqueles que vivem na Verdade, e que já possuem a Verdade, sua representação não pode ser nada mais que uma bela teoria para aqueles que não a percebem.

Os ensinamentos teosóficos não deveriam, portanto ser confundidos com A TEOSOFIA EM SI MESMA.

Os primeiros são uma serie de doutrinas que intentam oferecermo-nos a informação correta sobre a constituição da Natureza e do Homem, e assim ajudarem-nos a superar os conceitos errados que se interpõem no nosso caminho para a Realização da VERDADE ; mas a Teosofia em si mesma, está tão acima de toda teoria, como a Razão está para o raciocínio.

Esta VERDADE não requer argumentos para provar a sua existência, porque É EM SI MESMA, sua própria prova quando ela é alcançada; É O DIVINO AUTOCONHECIMENTO, O CONHECIMENTO PRÓPRIO DO verdadeiro SER NO HOMEM.
"


Prezado R.
Belíssimo texto!
Mesmo sintético, nos dá coordenadas para situarmos a natureza profundamente "subversiva" dos ensinamentos trazidos pela Teosofia e, por que não, da própria Teosofia enquanto arcabouço amplo de conhecimentos.
Percebemos que estamos tratando aqui de um outro nível de "saber": aqueles relativos ao Real.
E isso tem implicações profundas do ponto de vista metodológico da ciência ocidental, subvertendo especialmente as relações sujeito-objeto tradicionais, assim como as categorias "verdade" e "autoconhecimento".
Enfim, em última instância, trata-se de uma subversão total do sujeito do conhecimento [um sujeito com qualidades extraordinárias ou divinas] e, por que não, do seu objeto [um mundo material relativizado e referenciado a um sistema divino].
Nesse sentido, estamos diante de algo bastante disruptivo que gera uma desconstrução em todos os nossos referenciais metodológicos em ciência o que, por sua vez, nos relança a novas perspectivas e significados do "conhecer" e do "saber".
Sem dúvida, um enorme desafio!
Abs e obrigado pelo excelente material!
Fernando Hello

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

COMO DISCUTIR IDEIAS POLÍTICAS? POR ALVARO BIANCHI

Por indicação de Antonio Ozaí da UEM, segue um texto pragmático e "útil" - "Como discutir ideias políticas?" de Alvaro Bianchi da UNICAMP, lúcido e interessante, face à atual conjuntura política no país, onde ideias e ideais se digladiam apaixonadamente:

<http://blogjunho.com.br/como-discutir-ideias-politicas/>

Como comentário, alguém da minha lista de contatos me enviou a matéria complementar "Dinossauros" de Carlos Melo, publicada no jornal O Estado de São Paulo em 24/01/16, abaixo:

<http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,dinossauros,10000013153>


Vejam também por indicação de R. Branco: "A perdida arte do diálogo" por Karen Armstrong.


Prezado R.
Jacques Lacan, psicanalista francês da escola estruturalista, já dizia que o "sentido" do enunciado e da enunciação é dado pelo receptor da mensagem, ou seja, por quem escuta, e só posteriormente é ou não confirmado pelo emissor, mas só no "aprés cup".
Por aí podemos ver o quanto nossos "diálogos", que a entrevistada bem classifica de "diatribes", têm de reais "desencontros".
E vemos isso acontecer todos os dias, nos mais diferentes contextos e situações.
O fato é que precisamos de muito desprendimento, de distanciamento emocional e de desejo, para podermos ter uma verdadeira "escuta ativa", sensível, contextualizada e analítica.
Isso exige treino, mas também muita compaixão e empatia, coisas cada vez mais raras nos dias obtusos de hoje.
Na maior parte das vezes, percebo uma pura intenção de autoafirmação e imposição nas colocações feitas em muitas conversas, como se não houvesse chance para qualquer dúvida ou questionamentos em aberto e/ou problematização.
Optamos, na maior parte das vezes, por "pré-conceber" [preconceito; fase pré-conceptual (Fase Pré-Operatória de Piaget, de 2 a 7-8 anos)], que "com-ceber" [construir um conceito/categoria em conjunto (Fase Operatória Formal de Piaget, de 8 a 14 anos ou mais)].

E é nisso que precisamos evoluir.
Abs
Fernando Hello

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A DIFÍCIL ARTE DE BEM GOVERNAR...



Este texto abaixo me foi encaminhado por meu amigo M.
Minhas observações seguem logo depois do texto recebido.

É sabido que as parábolas e fábulas são excelentes instrumentos de ensino-aprendizagem, usadas desde os tempos mais remotos, inclusive pelo mestre dos mestres, como nos relatam os evangelhos. Elas têm a capacidade de nos mostrar uma questão complexa com a vantagem do distanciamento e da alusão, evitando o embate direto de ideias e (pré)-conceitos. Nada mais útil, portanto, nos dias atuais onde a complexidade das decisões e alternativas de intervenção são tão problemáticas e excludentes. E este é bem o caso aqui:
Fábula europeia

Um cidadão europeu me mandou a seguinte narrativa:
"Comprei uma casinha, dessas abertas, para alimentar pássaros. Pendurei-a na varanda e a supri com ração. Ficou uma beleza! Carinhosamente nunca deixei faltar as sementinhas. 
Depois de uma semana, tivemos centenas de aves que se deleitavam com o fluxo contínuo de comida livre e facilmente acessível.
Então, os pássaros começaram a construir ninhos nas beiras do pátio, acima da mesa e ao lado da churrasqueira.
Depois veio o cocô. Estava em toda parte: nas cadeiras, na mesa ..., em tudo! Algumas aves mudaram de comportamento. Tentavam me bombardear em voo de mergulho e me bicar, apesar de eu ser seu benfeitor.
Outras aves faziam tumulto e eram barulhentas. Elas pousavam no alimentador e a qualquer hora, ruidosamente, exigiam mais comida quando esta ameaçava acabar.
Chegou uma hora que eu não conseguia mais sentar na minha própria varanda. Então, desmontei o alimentador de pássaros e em três dias acabaram indo embora. Limpei a bagunça e acabei com os ninhos que fizeram por todos os lados.
Assim, tudo voltava ao que costumava ser: calmo, sereno .... e ninguém exigindo direitos a refeições grátis.

E o remetente da história conclui:
"Nosso governo dá a comida de graça a quem precisa, habitação subsidiada, assistência médica e educação gratuita; permite que qualquer pessoa nascida aqui receba automaticamente a cidadania.
Aí os ilegais chegaram às dezenas de milhares. De repente, os nossos impostos subiram para pagar os serviços gratuitos; pequenos apartamentos estão abrigando cinco famílias; você tem que esperar 6 horas para ser atendido numa emergência médica; seu filho, cursando o segundo grau, está à procura de outra escola, porque mais da metade da sua classe não fala a nossa língua. As caixas de cereais matinais agora vêm com rótulos bilíngues. Sou obrigado a usar teclas especiais para poder falar com o meu banco no nosso idioma e a ver pessoas estranhas acenando bandeiras, que não são a nossa, e ouvi-las berrando e gritando pelas ruas, exigindo mais direitos e liberdades gratuitas.
É apenas a minha opinião, mas talvez seja hora de também o governo desmontar o alimentador de pássaros.
Se você concordar, passe adiante; se não, simplesmente continue limpando a sujeira!..."
Minha resposta: 
Prezado M.
Creio que esta fábula refere-se, antes de mais nada, à questão das políticas públicas e seus ajustes.
Políticas públicas são, em última instância, ferramentas de regulação de curto, médio ou longo prazos, adotadas por governos para implementar suas ações e estratégias, seus programas e compromissos de campanha, ou iniciativas de inovações e/ou reformas político-institucionais.
Precisam ser constantemente monitoradas [controle de seus indicadores dinâmicos estabelecidos] e acompanhadas [gerenciadas e ajustadas em seus efeitos] para que maximizem seus impactos, representados então por sua eficiência, eficácia e efetividade diante dos problemas.
Creio que, com este pitoresco e emblemático episódio acima, portanto, o nosso incauto amigo europeu teve uma bela aula sobre os impactos, as dificuldades e a difícil previsibilidade/preditividade de diferentes intervenções de governo, articuladas, neste caso, mais especificamente ao equilíbrio ecológico rompido, e ao bem-estar socioeconômico abalado, inclusive com inversão de valores.
Assim, ao meu ver, ter uma visão mais holística dos fatos e encontrar a boa medida diante das escolhas possíveis e no seu posterior equacionamento e/ou atendimento diante das infinitas demandas, necessidades e desejos da população de qualquer grupo social, município, estado ou nação, é parte essencial da difícil, sensível e tênue arte de bem governar.
Abs 
Fernando Hello