terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A DIFÍCIL ARTE DE BEM GOVERNAR...



Este texto abaixo me foi encaminhado por meu amigo M.
Minhas observações seguem logo depois do texto recebido.

É sabido que as parábolas e fábulas são excelentes instrumentos de ensino-aprendizagem, usadas desde os tempos mais remotos, inclusive pelo mestre dos mestres, como nos relatam os evangelhos. Elas têm a capacidade de nos mostrar uma questão complexa com a vantagem do distanciamento e da alusão, evitando o embate direto de ideias e (pré)-conceitos. Nada mais útil, portanto, nos dias atuais onde a complexidade das decisões e alternativas de intervenção são tão problemáticas e excludentes. E este é bem o caso aqui:
Fábula europeia

Um cidadão europeu me mandou a seguinte narrativa:
"Comprei uma casinha, dessas abertas, para alimentar pássaros. Pendurei-a na varanda e a supri com ração. Ficou uma beleza! Carinhosamente nunca deixei faltar as sementinhas. 
Depois de uma semana, tivemos centenas de aves que se deleitavam com o fluxo contínuo de comida livre e facilmente acessível.
Então, os pássaros começaram a construir ninhos nas beiras do pátio, acima da mesa e ao lado da churrasqueira.
Depois veio o cocô. Estava em toda parte: nas cadeiras, na mesa ..., em tudo! Algumas aves mudaram de comportamento. Tentavam me bombardear em voo de mergulho e me bicar, apesar de eu ser seu benfeitor.
Outras aves faziam tumulto e eram barulhentas. Elas pousavam no alimentador e a qualquer hora, ruidosamente, exigiam mais comida quando esta ameaçava acabar.
Chegou uma hora que eu não conseguia mais sentar na minha própria varanda. Então, desmontei o alimentador de pássaros e em três dias acabaram indo embora. Limpei a bagunça e acabei com os ninhos que fizeram por todos os lados.
Assim, tudo voltava ao que costumava ser: calmo, sereno .... e ninguém exigindo direitos a refeições grátis.

E o remetente da história conclui:
"Nosso governo dá a comida de graça a quem precisa, habitação subsidiada, assistência médica e educação gratuita; permite que qualquer pessoa nascida aqui receba automaticamente a cidadania.
Aí os ilegais chegaram às dezenas de milhares. De repente, os nossos impostos subiram para pagar os serviços gratuitos; pequenos apartamentos estão abrigando cinco famílias; você tem que esperar 6 horas para ser atendido numa emergência médica; seu filho, cursando o segundo grau, está à procura de outra escola, porque mais da metade da sua classe não fala a nossa língua. As caixas de cereais matinais agora vêm com rótulos bilíngues. Sou obrigado a usar teclas especiais para poder falar com o meu banco no nosso idioma e a ver pessoas estranhas acenando bandeiras, que não são a nossa, e ouvi-las berrando e gritando pelas ruas, exigindo mais direitos e liberdades gratuitas.
É apenas a minha opinião, mas talvez seja hora de também o governo desmontar o alimentador de pássaros.
Se você concordar, passe adiante; se não, simplesmente continue limpando a sujeira!..."
Minha resposta: 
Prezado M.
Creio que esta fábula refere-se, antes de mais nada, à questão das políticas públicas e seus ajustes.
Políticas públicas são, em última instância, ferramentas de regulação de curto, médio ou longo prazos, adotadas por governos para implementar suas ações e estratégias, seus programas e compromissos de campanha, ou iniciativas de inovações e/ou reformas político-institucionais.
Precisam ser constantemente monitoradas [controle de seus indicadores dinâmicos estabelecidos] e acompanhadas [gerenciadas e ajustadas em seus efeitos] para que maximizem seus impactos, representados então por sua eficiência, eficácia e efetividade diante dos problemas.
Creio que, com este pitoresco e emblemático episódio acima, portanto, o nosso incauto amigo europeu teve uma bela aula sobre os impactos, as dificuldades e a difícil previsibilidade/preditividade de diferentes intervenções de governo, articuladas, neste caso, mais especificamente ao equilíbrio ecológico rompido, e ao bem-estar socioeconômico abalado, inclusive com inversão de valores.
Assim, ao meu ver, ter uma visão mais holística dos fatos e encontrar a boa medida diante das escolhas possíveis e no seu posterior equacionamento e/ou atendimento diante das infinitas demandas, necessidades e desejos da população de qualquer grupo social, município, estado ou nação, é parte essencial da difícil, sensível e tênue arte de bem governar.
Abs 
Fernando Hello

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